Ficha técnica:

artista: Ernesto Bonato

técnica: Gravura em metal (água-forte e ponta-seca em 2 cores)

dimensões: 29,5 x 18,2 cm (imagem) / 31,3 x 20,2  cm (papel)

suporte: Papel kozo

numeração: P.A.

ano: 2005

 

Observações:

A fotografia aqui apresentada é de referência, assim a tonalidade do papel e da impressão podem variar um pouco em relação ao que se visualiza na tela. Não há uma tiragem numerada para a série Tetraktys, pois cada impressão é feita a partir de cores preparadas unicamente para aquela impressão.

A obra é enviada sem moldura, em um envelope rígido, com certificado de autenticidade assinado pelo artista.

Algumas das obras são impressas sob demanda e outras estão disponíveis para pronta entrega. Entraremos em contato para informar os prazos de entrega.

 

Mais informações sobre esta obra:

A série Tetraktys, composta de aproximadamente 30 gravuras em metal impressas em branco sobre papel kozo preto, 40 gravuras em metal impressas em diversas cores sobre papel kozo e 18 grandes xilogravuras impressas em preto sobre papel Hahnemühle, foi desenvolvida entre 2002 e 2005 a partir do estudo do símbolo pitagórico conhecido como 'tetraktys'. A série ainda inclui uma obra digital interativa para ser projetada no ambiente. Foi feita apenas uma cópia dos conjuntos completos que compõem a série, além de algumas poucas impressões avulsas de algumas das gravuras (indicadas quando for o caso). A série toda ou parte dela já foi exposta em lugares como a Art Frankfurt - Feira Internacional de Gravura de Frankfurt, Messe Frankfurt; Atelier Tactile Bosch, Cardiff, País de Gales; Cajá Granada, Granada, Espanha; Galerie Michèle Broutta, Paris, França; Amsterdam Grafisch Atelier, Amsterdã, Holanda; Safe Gallery, Dalfsen, Holanda; Vrije Academie in Den Haag, Haia, Holanda; III Bienal de Gravura de Santo André, Galeria Olido, São Paulo, SP; Galeria do Centro Cultural Brasil-Estados Unidos, Belém do Pará, PA; Sabina – Escola Parque do Conhecimento, Santo André, SP; AT/AL/609, Campinas, SP; Galeria Virgílio. São Paulo, SP; Galeria Via Thorey. Vitória, ES; Centre de Diffusion Presse Papier, Trois- Rivières, Canadá, entre outros.

 

Sobre a série Tetraktys

Ernesto Bonato

Para os pitagóricos a tetraktys era um símbolo sagrado, perante o qual prestavam juramento solene (versos de ouro 46: “Juro-te por aquele que transmitiu à nossa alma o sagrado quaternário”) e sintetizava, ao lado do pentagrama, o conhecimento do Todo. De origem obscura, o símbolo pode ser descoberto em relevos egípcios antigos, velado em formas antropomórficas (é o caso de uma estela funerária que se encontra no Museu do Louvre, que tive a chance de analisar), o que nos permite pensar que Pitágoras deve ter sido mais um propagador do que inventor do quaternário. A tradição nos conta que o mestre, natural de Samos, passou quase 15 anos no Egito e Babilônia antes de estabelecer em Crotona, a partir de 530 A.C., a sua escola.

Um estudo anterior que empreendi acerca dos sólidos platônicos me levou mais tarde a investigar o pentagrama e especialmente o tetragrama de Pitágoras (tetraktys). Uma coisa que havia compreendido ao lidar com os sólidos regulares é que o estudo dos entes geométricos (ou símbolos geométricos) pressupõe a capacidade de vê-los (o que equivale a imaginá-los) em movimento e o manuseio das formas é um meio para isso. No caso da tetraktys isso se torna evidente ao “experimentá-la” de diferentes pontos de vista, ao interagir com este símbolo, desenhando-o, construindo-o de diferentes modos e percebendo seus desdobramentos em outros símbolos. O tetragrama parece corresponder a um computador sofisticadíssimo que encerra informações ilimitadas, disponíveis àqueles que saibam acessá-las.

O conjunto de chapas de cobre as quais chamei primeiramente de “Matrix” e depois, simplesmente de 'Tetraktys', foi gravada de um só fôlego, quase uma por dia, no calor úmido do verão de 2002 sem que fizesse uma só impressão até que as mais de 30 placas que compõem a série estivessem gravadas. Riscava-as como quem desenha em um caderno, com o objetivo primeiro de estudar o símbolo e testemunhar as descobertas que ia fazendo em imagens, ou seja,  são expressões sinceras do esforço de estudar o símbolo, pelo uso de uma geometria especulativa. Utilizava as ferramentas do geômetra, um compasso com pontas secas e uma régua, riscando diretamente a placa ou o verniz. As primeiras provas foram feitas com branco de titânio em papel kozo negro e revelavam quase que exclusivamente as formas geométricas decorrentes do estudo. De quando em quando apareciam outras figuras, um compasso, uma retorta, um vidro com ácido, um rosto de perfil, um vaso canopo, uma noite.

No ano seguinte iniciei uma versão em xilogravura desses estudos em pranchas de compensado de 90 x 60 cm. A ideia era utilizar estas imagens como cartazes de rua e aproveitar para continuar minha pesquisa sobre a tetraktys em xilogravura, talvez influenciado pelas impressões que havia feito com tinta branca em papel negro. Procedi da mesma forma, sem muito plano, riscando e cavando diretamente as pranchas, guiado pelas visões que iam me ocorrendo durante o trabalho. Realizei 18 xilogravuras, que imprimi em papel Hahnemühle 300 gr. sem margem, a maior parte delas em preto e branco.

Em julho de 2004 realizei uma nova série de águas-fortes, mais ou menos trinta chapas do mesmo tamanho das primeiras Tetraktys'. Chamei-a de "Páginas soltas do livro 'dos dias de inverno". Trabalhei sobre placas já preparadas com verniz em andanças pela cidade e em pequenas viagens. Riscava a placa in loco e no atelier o percloreto de ferro se encarregava de mordê-las. Atuava como se as placas fossem folhas de um caderno de desenho, pois pensava que as estampas, como no caso da série 'Tetraktys', deveriam compor um livro silencioso, feito exclusivamente de imagens. Os desenhos, feitos de observação, representavam quase sempre coisas minúsculas, ervas baldias, pequenos botões de rosas, uma pena, uma concha, dentes de leão, uma aranha em sua teia, mas também um vale visto da serra, uma asa de pomba, um chorão, etc. Coisas que percebemos quando paramos e observamos em silêncio. Fiz uma primeira impressão em cores num papel mitsumata antigo, que o Marcelo Grassmann havia me dado e que veio com aquele tom amarelo exato que só o tempo produz. Imprimi-as em páginas duplas, dobradas, para encadernar. Deste conjunto escolhi dez para o Clube da Gravura do MAM e fiz uma edição de dez cópias de cada em folha simples, papel Hahnemühle de prova. Assim atendi ao pedido do Museu de enviar-lhes cem cópias de uma única gravura como doação ao Clube. Foi talvez só no verão seguinte que me convenci daquilo que já havia decidido sem saber, ou seja, que as duas séries eram uma só e comecei a imprimir as gravuras umas sobre as outras. Escolhi um papel kozo mais grosso e calandrado, de tom amarelado, sem deixar margem e imprimi inúmeras combinações das duas séries, sobrepondo duas, três ou quatro chapas distintas para cada estampa. Essas impressões eram pródigas no uso de cores como o ouro, a prata, os verdes escuros e claros, os azuis profundos e transparentes ou acinzentados e opacos, a sanguínea, os castanhos e o açafrão. As novas provas foram encerradas, junto com as anteriores negras, em uma caixa revestida com um papel kozo de base marrom claro, mesclado com longas fibras do mesmo tom e mais claras.

Nesse ponto, a intenção de dar a este universo de imagens o formato do livro foi surpreendida e alterada por uma série de exposições onde pude experimentar diferentes relações entre as imagens e algumas configurações para o conjunto. Para estas exposições, desenvolvi uma instalação luminosa com a qual almejava tornar presente, ou pelo menos mais visível, a influência do movimento e das relações circulares e simultâneas para a percepção da tetraktys. Além disso, buscava ampliar a conexão da série com o espaço expositivo e com o próprio observador, que se veria imerso nos infinitos mundos contidos na tetraktys. Trabalhei na concepção do programa que geraria a projeção luminosa com o meu pai, que é físico matemático. O programa especialmente desenvolvido para esta projeção calcula em tempo real todas as possibilidades de ligações conexas entre os dez pontos da tetraktys e as exibe aleatoriamente ou seguindo uma ordem (de 01 a 33 ligações). O observador poderia interagir com a projeção selecionando opções em um menu ou colocando-se diante dela, permitindo que seu corpo se transforme no suporte. Na tetraktys, temos dez pontos organizados num triângulo equilátero. Se pudermos ligar quaisquer dos pontos entre si, formando linhas, teremos 33 linhas distintas que podem ser combinadas de 233 = 8.589.934.592 maneiras diferentes, fornecendo este mesmo número de grafos distintos (incluindo o vazio, com 0 linhas). Só para se ter uma ideia, se os grafos forem exibidos durante 01 segundo, sem que se repita nenhum deles, levaria quase três séculos para projetar todas as combinações possíveis. É fascinante identificarmos dentre a profusão de grafos, vários símbolos numéricos, gráficos, religiosos, alquímicos, musicais, etc. presentes em diversas culturas, bem como estruturas naturais orgânicas e inorgânicas.

Do ponto de vista da gravura a projeção traz à tona uma discussão interessante sobre o significado que pode adquirir as palavras matriz e impressão se aplicarmos os conceitos não a procedimentos específicos, mas a estruturas universais. Neste sentido esta projeção pode ser vista como uma manifestação parcial de uma suposta (e decerto imaginária) gravura babilônica (ou de Babel, como a biblioteca concebida por Jorge Luís Borges) onde uma única matriz (no caso a própria tetraktys) pode gerar incontáveis figuras, imprimindo-as por breves instantes no espaço, infinitamente.

A série 'Tetraktys', apesar de ter sido relativamente bem exposta no exterior e de ter vendido grande parte das gravuras na época, ainda é pouco conhecida por aqui, sobretudo entre aqueles que tomaram contato com o meu trabalho mais recentemente. Considero, no entanto, uma das séries mais importantes que realizei e continua, como o próprio símbolo pitagórico, viva.

Ernesto Bonato - 'Tetraktys' (Série Tetraktys)

R$1.800,00
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Ficha técnica:

artista: Ernesto Bonato

técnica: Gravura em metal (água-forte e ponta-seca em 2 cores)

dimensões: 29,5 x 18,2 cm (imagem) / 31,3 x 20,2  cm (papel)

suporte: Papel kozo

numeração: P.A.

ano: 2005

 

Observações:

A fotografia aqui apresentada é de referência, assim a tonalidade do papel e da impressão podem variar um pouco em relação ao que se visualiza na tela. Não há uma tiragem numerada para a série Tetraktys, pois cada impressão é feita a partir de cores preparadas unicamente para aquela impressão.

A obra é enviada sem moldura, em um envelope rígido, com certificado de autenticidade assinado pelo artista.

Algumas das obras são impressas sob demanda e outras estão disponíveis para pronta entrega. Entraremos em contato para informar os prazos de entrega.

 

Mais informações sobre esta obra:

A série Tetraktys, composta de aproximadamente 30 gravuras em metal impressas em branco sobre papel kozo preto, 40 gravuras em metal impressas em diversas cores sobre papel kozo e 18 grandes xilogravuras impressas em preto sobre papel Hahnemühle, foi desenvolvida entre 2002 e 2005 a partir do estudo do símbolo pitagórico conhecido como 'tetraktys'. A série ainda inclui uma obra digital interativa para ser projetada no ambiente. Foi feita apenas uma cópia dos conjuntos completos que compõem a série, além de algumas poucas impressões avulsas de algumas das gravuras (indicadas quando for o caso). A série toda ou parte dela já foi exposta em lugares como a Art Frankfurt - Feira Internacional de Gravura de Frankfurt, Messe Frankfurt; Atelier Tactile Bosch, Cardiff, País de Gales; Cajá Granada, Granada, Espanha; Galerie Michèle Broutta, Paris, França; Amsterdam Grafisch Atelier, Amsterdã, Holanda; Safe Gallery, Dalfsen, Holanda; Vrije Academie in Den Haag, Haia, Holanda; III Bienal de Gravura de Santo André, Galeria Olido, São Paulo, SP; Galeria do Centro Cultural Brasil-Estados Unidos, Belém do Pará, PA; Sabina – Escola Parque do Conhecimento, Santo André, SP; AT/AL/609, Campinas, SP; Galeria Virgílio. São Paulo, SP; Galeria Via Thorey. Vitória, ES; Centre de Diffusion Presse Papier, Trois- Rivières, Canadá, entre outros.

 

Sobre a série Tetraktys

Ernesto Bonato

Para os pitagóricos a tetraktys era um símbolo sagrado, perante o qual prestavam juramento solene (versos de ouro 46: “Juro-te por aquele que transmitiu à nossa alma o sagrado quaternário”) e sintetizava, ao lado do pentagrama, o conhecimento do Todo. De origem obscura, o símbolo pode ser descoberto em relevos egípcios antigos, velado em formas antropomórficas (é o caso de uma estela funerária que se encontra no Museu do Louvre, que tive a chance de analisar), o que nos permite pensar que Pitágoras deve ter sido mais um propagador do que inventor do quaternário. A tradição nos conta que o mestre, natural de Samos, passou quase 15 anos no Egito e Babilônia antes de estabelecer em Crotona, a partir de 530 A.C., a sua escola.

Um estudo anterior que empreendi acerca dos sólidos platônicos me levou mais tarde a investigar o pentagrama e especialmente o tetragrama de Pitágoras (tetraktys). Uma coisa que havia compreendido ao lidar com os sólidos regulares é que o estudo dos entes geométricos (ou símbolos geométricos) pressupõe a capacidade de vê-los (o que equivale a imaginá-los) em movimento e o manuseio das formas é um meio para isso. No caso da tetraktys isso se torna evidente ao “experimentá-la” de diferentes pontos de vista, ao interagir com este símbolo, desenhando-o, construindo-o de diferentes modos e percebendo seus desdobramentos em outros símbolos. O tetragrama parece corresponder a um computador sofisticadíssimo que encerra informações ilimitadas, disponíveis àqueles que saibam acessá-las.

O conjunto de chapas de cobre as quais chamei primeiramente de “Matrix” e depois, simplesmente de 'Tetraktys', foi gravada de um só fôlego, quase uma por dia, no calor úmido do verão de 2002 sem que fizesse uma só impressão até que as mais de 30 placas que compõem a série estivessem gravadas. Riscava-as como quem desenha em um caderno, com o objetivo primeiro de estudar o símbolo e testemunhar as descobertas que ia fazendo em imagens, ou seja,  são expressões sinceras do esforço de estudar o símbolo, pelo uso de uma geometria especulativa. Utilizava as ferramentas do geômetra, um compasso com pontas secas e uma régua, riscando diretamente a placa ou o verniz. As primeiras provas foram feitas com branco de titânio em papel kozo negro e revelavam quase que exclusivamente as formas geométricas decorrentes do estudo. De quando em quando apareciam outras figuras, um compasso, uma retorta, um vidro com ácido, um rosto de perfil, um vaso canopo, uma noite.

No ano seguinte iniciei uma versão em xilogravura desses estudos em pranchas de compensado de 90 x 60 cm. A ideia era utilizar estas imagens como cartazes de rua e aproveitar para continuar minha pesquisa sobre a tetraktys em xilogravura, talvez influenciado pelas impressões que havia feito com tinta branca em papel negro. Procedi da mesma forma, sem muito plano, riscando e cavando diretamente as pranchas, guiado pelas visões que iam me ocorrendo durante o trabalho. Realizei 18 xilogravuras, que imprimi em papel Hahnemühle 300 gr. sem margem, a maior parte delas em preto e branco.

Em julho de 2004 realizei uma nova série de águas-fortes, mais ou menos trinta chapas do mesmo tamanho das primeiras Tetraktys'. Chamei-a de "Páginas soltas do livro 'dos dias de inverno". Trabalhei sobre placas já preparadas com verniz em andanças pela cidade e em pequenas viagens. Riscava a placa in loco e no atelier o percloreto de ferro se encarregava de mordê-las. Atuava como se as placas fossem folhas de um caderno de desenho, pois pensava que as estampas, como no caso da série 'Tetraktys', deveriam compor um livro silencioso, feito exclusivamente de imagens. Os desenhos, feitos de observação, representavam quase sempre coisas minúsculas, ervas baldias, pequenos botões de rosas, uma pena, uma concha, dentes de leão, uma aranha em sua teia, mas também um vale visto da serra, uma asa de pomba, um chorão, etc. Coisas que percebemos quando paramos e observamos em silêncio. Fiz uma primeira impressão em cores num papel mitsumata antigo, que o Marcelo Grassmann havia me dado e que veio com aquele tom amarelo exato que só o tempo produz. Imprimi-as em páginas duplas, dobradas, para encadernar. Deste conjunto escolhi dez para o Clube da Gravura do MAM e fiz uma edição de dez cópias de cada em folha simples, papel Hahnemühle de prova. Assim atendi ao pedido do Museu de enviar-lhes cem cópias de uma única gravura como doação ao Clube. Foi talvez só no verão seguinte que me convenci daquilo que já havia decidido sem saber, ou seja, que as duas séries eram uma só e comecei a imprimir as gravuras umas sobre as outras. Escolhi um papel kozo mais grosso e calandrado, de tom amarelado, sem deixar margem e imprimi inúmeras combinações das duas séries, sobrepondo duas, três ou quatro chapas distintas para cada estampa. Essas impressões eram pródigas no uso de cores como o ouro, a prata, os verdes escuros e claros, os azuis profundos e transparentes ou acinzentados e opacos, a sanguínea, os castanhos e o açafrão. As novas provas foram encerradas, junto com as anteriores negras, em uma caixa revestida com um papel kozo de base marrom claro, mesclado com longas fibras do mesmo tom e mais claras.

Nesse ponto, a intenção de dar a este universo de imagens o formato do livro foi surpreendida e alterada por uma série de exposições onde pude experimentar diferentes relações entre as imagens e algumas configurações para o conjunto. Para estas exposições, desenvolvi uma instalação luminosa com a qual almejava tornar presente, ou pelo menos mais visível, a influência do movimento e das relações circulares e simultâneas para a percepção da tetraktys. Além disso, buscava ampliar a conexão da série com o espaço expositivo e com o próprio observador, que se veria imerso nos infinitos mundos contidos na tetraktys. Trabalhei na concepção do programa que geraria a projeção luminosa com o meu pai, que é físico matemático. O programa especialmente desenvolvido para esta projeção calcula em tempo real todas as possibilidades de ligações conexas entre os dez pontos da tetraktys e as exibe aleatoriamente ou seguindo uma ordem (de 01 a 33 ligações). O observador poderia interagir com a projeção selecionando opções em um menu ou colocando-se diante dela, permitindo que seu corpo se transforme no suporte. Na tetraktys, temos dez pontos organizados num triângulo equilátero. Se pudermos ligar quaisquer dos pontos entre si, formando linhas, teremos 33 linhas distintas que podem ser combinadas de 233 = 8.589.934.592 maneiras diferentes, fornecendo este mesmo número de grafos distintos (incluindo o vazio, com 0 linhas). Só para se ter uma ideia, se os grafos forem exibidos durante 01 segundo, sem que se repita nenhum deles, levaria quase três séculos para projetar todas as combinações possíveis. É fascinante identificarmos dentre a profusão de grafos, vários símbolos numéricos, gráficos, religiosos, alquímicos, musicais, etc. presentes em diversas culturas, bem como estruturas naturais orgânicas e inorgânicas.

Do ponto de vista da gravura a projeção traz à tona uma discussão interessante sobre o significado que pode adquirir as palavras matriz e impressão se aplicarmos os conceitos não a procedimentos específicos, mas a estruturas universais. Neste sentido esta projeção pode ser vista como uma manifestação parcial de uma suposta (e decerto imaginária) gravura babilônica (ou de Babel, como a biblioteca concebida por Jorge Luís Borges) onde uma única matriz (no caso a própria tetraktys) pode gerar incontáveis figuras, imprimindo-as por breves instantes no espaço, infinitamente.

A série 'Tetraktys', apesar de ter sido relativamente bem exposta no exterior e de ter vendido grande parte das gravuras na época, ainda é pouco conhecida por aqui, sobretudo entre aqueles que tomaram contato com o meu trabalho mais recentemente. Considero, no entanto, uma das séries mais importantes que realizei e continua, como o próprio símbolo pitagórico, viva.